#Melhore!

Que as redes sociais digitais são um reflexo da convivência com as pessoas do nosso cotidiano, todo mundo sabe. Então, tudo que existe sem a mediação da tela, está presente no mundo em que ela é fundamental para estabelecer a comunicação. Sendo assim, a forma como uma pessoa trata a outra — com carinho, rispidez, indiferença, empatia — também vai ter eco no Facebook, Instagram, Twitter e demais mídias. Nesse sentido, você já percebeu como algumas expressões usadas nesses meios são desrespeitosas e, quase sempre, incitam a violência?

Fig. 1: ilustração feita por Raulino Júnior

Isso fica muito evidente entre os fãs de artistas populares, que, muitas vezes, são estimulados por seus próprios ídolos a terem uma postura combativa nas redes; e também entre ativistas políticos, uma vez que a radical polarização não admite um equilíbrio nos debates. As expressões usadas contribuem para uma convivência nada harmoniosa entre quem posta e quem comenta. Uma das mais frequentes é “O choro é livre!”, que, por si só, soa agressiva. É sempre usada quando alguém posta alguma coisa que pode gerar muita polêmica. É como se o autor da postagem dissesse: “É isso mesmo! Quem não gostou, pode chorar”. Para quem recebe isso na timeline, percebe a imposição que está explicitada no simples uso da expressão.

Outra que figura nas mídias sociais é “Melhore!”. Ela carrega em si uma desaprovação em relação àquilo que foi postado. Em geral, se algum famoso dá alguma declaração considerada desastrosa, ele sempre recebe o carimbo de “Melhore!”. Um conselho bem acintoso. Desconhecidos também são vítimas do “Melhore!”. Ninguém escapa.

“Apenas pare!” segue a mesma linha de “Melhore!”, só é mais impositiva. Ou seja: não dá chance para a pessoa melhorar, já pede para ela parar com aquela postura que, para quem julga, é reprovável. “Seje menas!” (assim mesmo!) é da mesma natureza.

Há expressões que trazem uma intenção um pouco mais positiva, mas, ainda assim, soam desrespeitosas. É o caso de “Pisa menos!” e “Chupa!”. A primeira é usada quando alguém — famoso ou anônimo — faz algo que é considerado muito bom na visão de quem lê o que foi publicado; a segunda, mais voltada para os receptores da mensagem, é bastante agressiva e aparece quando quem posta quer enfiar a sua predileção goela abaixo. “Chupa!” é o novo “Aceita que dói menos!”, amplamente popularizada entre as pessoas que habitam no universo das redes sociais digitais. Será que “Chupa!” é uma releitura de “Chupa essa manga!”? Ou será da família de “Descasque este abacaxi!”? Ficam os questionamentos.

Não se pode negar que, linguisticamente, o uso dessas expressões trazem riqueza para o léxico do nosso idioma. O que se espera é que elas não continuem sendo usadas para desrespeitar e incitar a violência. É preciso ter respeito sempre. Em qualquer espaço. #Melhore!

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Raulino Júnior

Professor da Rede Pública Estadual de Ensino da Bahia

Publicado por Raulino Júnior

Sou compositor, professor de Linguagens, jornalista, produtor cultural, ávido leitor e atleta. Gosto de gente, adoro cantar e dançar! Sou um cara muito bacana, detesto pessoas-discurso, medíocres, falsas e mal-educadas. Eu levo a vida de uma forma lúdica, porque acho que os problemas se potencializam quando damos muita importância a eles. Tenho vários defeitos: sou centralizador, ensimesmado, pouco tolerante com algumas pessoas e com certas situações, desconfiado, muito disciplinado e perfeccionista; o que me torna chato algumas vezes. Modestamente: acho que os chatos vão salvar o mundo. A música "Bola de meia, bola de gude", de Milton Nascimento e Fernando Brant, diz muito sobre mim. Principalmente, nestes versos: "Há um menino/Há um moleque/Morando sempre no meu coração/Toda vez que o adulto balança/Ele vem pra me dar a mão/[...]/E me fala de coisas bonitas/Que eu acredito/Que não deixarão de existir/Amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor/Pois não posso, não devo, não quero viver/Como toda essa gente insiste em viver/E não posso aceitar sossegado/Qualquer sacanagem/Ser coisa normal". Sou contra conchavos e malandragens! Não faço média nem puxo o saco!

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